quinta-feira, 31 de março de 2011

Metade...


Que a força do medo que tenho,
não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que acredito,
não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito,
mas outra metade é silencio…
Que a música que ouço ao longe seja linda,
ainda que triste.
Que a mulher que eu amo seja sempre amada,
mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida,
e a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo,
não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como única coisa que resta,
a um homem inundado de sentimento.
Porque metade de mim é o que ouço,
mas outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora,
se transforme na calma e na paz que mereço.
Que essa tensão que me ocorre por dentro,
seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso,
e a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste,
que o convívio comigo mesmo,
se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflicta em meu rosto,
o doce sorriso que eu lembro de ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria,
para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silencio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo,
mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba,
E que ninguém tente complicar,
porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é a plateia,
e a outra metade a canção.
E que a minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor,
e a outra metade…
Também.


(Oswaldo Montenegro)


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